23/08/13

Jüdishes Museum - Daniel Libeskind

O simbolismo das pedras decorre da organização do espaço, da distribuição do vazio e da matéria, ou nasce da abstração da memória e dos fundamentos culturais do indivíduo?
Quando um edifício é construído com um propósito inicial determinado, qualquer decisão do arquitecto é conduzida por esse propósito. Diferente de transportar objectos para um edifício pré-existente. O espólio do museu do Judaísmo é a carne que as pedras cobrem, o miolo a partir do qual se constrói o museu. As vidas deixam de ser vidas e passam a ser memorabilia que pertenceu em tempos a pessoas desaparecidas, mortas. O eixo do Holocausto, um corredor ascensional que corta o eixo da tranquilidade, desemboca - ou antes, é bruscamente interrompido - no vazio, uma sala que acompanha verticalmente toda a exposição, sem nada dentro, na qual apenas é visível uma fresta no alto por onde entra a luz - apenas durante o dia, dado que nenhuma fonte de luz artificial existe na sala. A verticalidade da divisão enclausura as vidas dos judeus que antes vimos. O frio da pedra cria um vácuo concentrando o tempo num espaço de três metros quadrados, um altar sacrificial de onde toda a presença divina foi sugada. Um funcionário do museu abre a porta ao visitante - um porteiro para o vazio. O longo corredor que exibe em pequenas capelas restos da vida de judeus mortos em campos de concentração é apenas a antecâmara do extermínio. Andarmos por ali ritualiza a morte, objecto de celebração da entropia. Será possível uma qualquer ética ainda humana num museu que celebra o desaparecimento?

(De um diário de uma viagem de há alguns anos.)

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