27/07/13

Jesse e Celine

Ainda sobre os filmes de Linklater, fica aqui o que escrevi sobre Antes do Anoitecer, no meu antigo blogue. Interessante descobrir que o que me interessou na altura foi menos o filme - em termos formais e temáticos - e mais o que me levou a pensar, onde conduziu o meu pensamento. Por ordem cronológica:

O que mais impressiona no filme Antes do Anoitecer, que finalmente consegui digerir, é a sensação de transitoriedade das coisas; o definitivo é uma ideia que se perde do primeiro filme, a certeza dos acontecimentos também. O que diz este filme é que existe um tempo para entender que não há nada, nem ninguém, na vida, que responda absolutamente à questão fundamental: porquê? E isto será precisamente a passagem para a vida adulta. Posso falar em idealismo, mas não é bem isso. Celine e Jesse continuam, de certo modo, idealistas. Ainda esperam que a felicidade aconteça, e que aconteça através do amor. Mas o idealismo irrealista de Antes do Amanhecer foi substituído pelo romantismo desencantado do segundo filme. Há uma melancolia que se passeia por Paris, que os acompanha. É a melancolia da idade perdida, do tempo que passou e (infelizmente?) ficou. A conclusão a que se chega? Aos trinta, como só os trintões sabem, o sexo deixa de ser a concretização do amor para passar a ser um fim em si mesmo. Lugar-comum, é verdade, mas é assim a vida. Quando existe a percepção de que a pergunta fundamental nunca será respondida, o melhor será o abandono aos prazeres do quotidiano, ao mergulho irracional no mundo imediato dos sentidos. Desencanto, como referi antes? Não, apenas lucidez, realismo. - 30/11/2004
O título deste post tem uma razão de ser, que não cheguei a explicitar na primeira parte. Tem a ver com aquela ideia de que a vida não passa de um esboço, que nunca chega a ter uma versão final, e por isso tudo parece demasiado difuso, incontrolável, definitivamente inacabado. O díptico Antes do Amanhecer/Antes do Anoitecer transmite esta ideia de transitoriedade que não é auto-consciente, a sensação (e nunca passa disso mesmo) de que o que acontece nunca será nem controlado, nem completamente apreendido por nós. Os dois filmes são, portanto, esboços, ensaios para uma coisa maior, e sabemos que nunca irão passar desta fase; ao mesmo tempo, o díptico é um espelho da vida de Celine e Jesse, que por sua vez é um espelho da vida banal do eu indefinido que vai ver o filme. Qual o valor do sentido das coisas quando não existe uma compreensão total do peso dessas coisas? Esvaziar cada decisão reduzindo-a à sua insignificância, ou, como se diz em inglês, "Get Laid". - 02/12/2004

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