04/02/12

Encontrar um estilo

Pensava no que seria um modo de escrever um blogue intimista. Os textos de Julio Ramón Ribeyro coligidos em Prosas Apátridas poderiam ser um blogue na sua forma primitiva, o diário. Mas se a aproximação é evidente, também acaba por ser a distanciação. Um diário não se escreve para um público imediato. Um blogue é público no momento a seguir à escrita. A distinção entre os dois meios é obrigatório. Os blogues intimistas que costumo ler fingem uma sinceridade que é pouco interessante. Ou então revelam uma intimidade através de uma linguagem cifrada e remissiva, criando objectos anónimos ou desconhecidos para o leitor, e desenhando um sujeito que se esconde mais do que descobre. Uma identidade furtiva, no fundo uma imitação da vida que existe fora do que se escreve no blogue. Há pouca verdade na construção de uma personagem, por isso o voyeurismo de quem lê é construído a partir de uma ficção. Um desejo de conhecer o outro, como se a linguagem não fosse a barreira mais eficaz entre o ego e o superego. A escrita intimista é portanto uma projecção distorcida ou ficcionada da identidade. O diário terá mais verdade, mas é menos útil, numa época de identidades simuladas. Não é público.

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