25/12/11

Filmes do ano (2)

George Clooney aprendeu com os grandes mestres do filme político - Alan J. Pakula, Sidney Pollack, o Coppola de The Conversation. E o que colheu nestes filmes - a paranóia, o gosto pela construção das personagens, a sensibilidade que transforma histórias vulgares nos meios políticos em obras sobre a miséria da alma humana - as peças políticas de Shakespeare são, devem ser, a matriz deste género cinematográfico - é usado com uma sabedoria formal assinalável. O sentido de ritmo de Idos de Março é a correia de transmissão de um argumento inteligente e complexo. Começamos a meio de uma campanha eleitoral para a presidência, ainda na fase das primárias democratas (há ecos de Taxi Driver nestas sequências iniciais). Há um candidato que parece ser mais idealista - Clooney - e os seus dois assessores, desempenhados por Philip Seymour Hoffman (o experiente, vagamente inspirado, até fisicamente, no sinistro Karl Rove, antigo conselheiro de Bush Jr.) e Ryan Gosling, o novato, a quem todos auguram um futuro brilhante. Gosling, o idealista, que trabalha para o candidato por concordar com muitas das suas ideias políticas. Mas a política é suja, não pode haver nela lugar para idealismos. A trama adensa-se quando surge uma jovem apoiante (a excelente Evan Rachel Wood) que seduz Meyers (Gosling). Sexo, poder, controlo. Tudo o que a política é, o mundo de sombras a que Meyers queria escapar, a sua essência. A composição de Gosling é certeira, perfeita - o olhar do jovem idealista transforma-se, torna-se cínico e frio, vingativo. E o filme torna-se grande com esta metamorfose. Ninguém está a salvo.

Idos de Março, realizado por George Clooney, com Ryan Gosling, George Clooney, Philip Seymour Hoffman, Evan Rachel Wood, Paul Giamatti e Marisa Tomei.

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