28/10/11

The sense of an ending, Julian Barnes

A história contada por Julian Barnes em The Sense of an Ending (que vai ter o título em português de O Sentido do Fim*) é uma história de enganos e descobertas. Reencontrar o fio perdido de uma memória de juventude, de um acontecimento que surpreendeu e marcou um grupo de amigos, em particular o narrador do livro, Tony Webster. O avanço da narrativa faz-se na incerteza. O narrador não sabe o que aconteceu, nem porquê, e vai descobrindo à medida que o leitor descobre. A técnica usada não é especialmente inovadora mas é eficaz a vários níveis: serve a ideia da história e conduz o leitor a um caminho de percepções erradas e ideias construídas e desfeitas, um caminho em que o equívoco pode levar ao desastre e actos impulsivos à tragédia. 
O tema do romance evoca Expiação, de Ian McEwan, no seu pressuposto narrativo, mas a resolução do problema acaba por ser diferente em Barnes. Enquanto McEwan investe no pathos, criando uma personagem, Briony, cujo lastro de culpa que um acto ingénuo, uma errónea interpretação da realidade - normal numa criança de 12 anos - leva a um desespero apenas mitigado pela doença da esquecimento, Tony acaba por ser apenas um peão do destino, e o conhecimento tardio das razões que levaram ao suicídio de Adrian, o amigo de juventude, é um fantasma que o assombra - e assombrará, dado que o livro termina no vazio; da vida de Tony, a conclusão de um percurso de passividade e desistência. A aceitação da calma burguesa, que contradiz os ideais de uma juventude forjada nos swinging sixties, é o espelho invertido do brilhantismo de Adrian, derrotado pelo seu próprio tumulto.
As frases elegantes, a cadência realçando o modo como o narrador olha para o mundo, o domínio perfeito do suspense que qualquer boa história deverá exibir, fazem deste livro um cúmulo na obra de Barnes, que acabou por ser premiado com o Booker. Se mereceu ou não, pouco interessa; o resultado final oferece-nos algumas perfeitas horas de leitura, e isso é suficiente.

*Não concordo com esta tradução. Literalmente, poder-se-ia traduzir por "A sensação de um fim" ou, mais livremente, "O sentimento de um fim". É esse o significado da expressão. Mas é claro que Barnes também tentou dar outra dimensão ao título, e neste caso a palavra "sentido" parece bem aplicada. Contudo, o artigo usado em inglês é o indefinido, "an" e não o definido, "the". E quem lê o romance (ou novela) percebe que "fim" é usado no sentido de "closure", resolução. O enigma de um suicídio, a razão que vai para lá da frase de Camus. A grandiloquência da solução encontrada não se justifica.

Nota: a capa da edição portuguesa (da Quetzal, a sair em meados de Novembro) não é totalmente falhada. Mas por que é que não usaram a da belíssima edição original? Mistérios...

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