18/10/11

A Casa é Infinita/Tomas Tranströmer

Primavera de 1827, Beethoven
iça a sua máscara da morte e parte.

As rodas continuam a girar nos moinhos da Europa.
Os gansos selvagens voam para Norte.

Aqui é o Norte, aqui é Estocolmo
piscinas apalaçadas e condomínios.

Os toros na lareira Real
desabam de Alerta! para À Vontade.

A paz prevalece, vacinas e batatas,
mas os poços da cidade respiram profundamente.

Pela noite, canhões são levados em segredo pela Ponte do Norte,
como se fossem paxás sentados em cadeirões de veludo.

O pavimento de pedra fá-los vacilar
donzelas mendigos cavalheiros.

Implacavelmente quieta, a placa
com o negro fumando.

Tantas ilhas, tanto para remar,
os invisíveis remos contra a corrente!

Os canais são transitáveis, Abril Maio
e o mês de Junho, doce e gotejante como mel.

O calor chega às ilhas mais distantes.
As portas na aldeia estão abertas; menos uma.

O ponteiro do relógio-cobra lambe o silêncio.
As encostas rochosas brilham com a paciência do geólogo.

Aconteceu assim, ou quase.
É uma obscura história de família

sobre Erik, derrotado por uma maldição,
inutilizado por uma bala disparada directo à alma.

Foi à cidade, encontrou um inimigo,
e regressou de barco, doente e cinza.

Fica de cama todo aquele verão.
As ferramentas na parede estão de luto.

Ele jaz acordado, ouve o esvoaçar felpudo
das mariposas, as suas companheiras ao luar.

A sua força esvai-se, tenta lutar em vão
contra a armadura de ferro, o amanhã.

E o Deus das profundezas grita das profundezas
"Entrega-te a mim! Entrega-te!"

Todo o movimento à superfície se volta para dentro.
Ele é despedaçado, recomposto.

O vento levanta e os arbustos
de rosas selvagens ondulam à luz fugidia.

O futuro floresce, ele olha
para o caleidoscópio auto-giratório

e vê trémulos e indistintos rostos,
rostos de familiares ainda por nascer.

Por engano, o seu olhar apanha-me
enquanto eu passeio aqui em Washington

por entre casas imponentes sustentadas
por colunas alternadas.

Prédios brancos que parecem crematórios,
onde o sonho dos pobres se transforma em cinza.

A suave encosta descendente torna-se mais íngreme
transformando-se subtilmente num abismo.


(Versão a partir da tradução de Robin Fulton para inglês, incluída no livro New an Collected Poems, ed. Bloodaxe Books.)

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