28/11/07

Don't Come Knocking

Já se passaram vinte anos desde a última colaboração entre Wim Wenders e Sam Shepard com Paris, Texas (1984), mas o tom mantém-se. Don't come knocking é, provavelmente, um dos filmes mais simples de Wenders e um dos argumentos mais típicos de Shepard: haverá um dia em que a vontade de largar tudo é mais forte mas será demasiado tarde para mudar de ideias. Neste filme (estreia-se agora mas é de 2005) reencontramos o imaginário de Shepard, escritor de crónicas e peças de teatro, e encontramos o actor já envelhecido e é difícil de imaginar um homem mais sedutor do que ele. Parece-me que a sedução se deve à simplicidade no modo de representar. (O mesmo acontecia em Days of Heaven (1978) de Terrence Malick.) Sam Shepard consegue a paradoxal harmonia entre o intelectual, escritor, o contador de histórias de solidão e abandono, das memórias de infância, da vida em motéis, e uma presença rural, as mãos ásperas, as rugas vincadas, os dentes tortos, sempre numa atitude isenta de artifícios. Também ele faz parte da paisagem humana que retrata, o fim do mítico oeste selvagem americano.

[Susana Viegas]

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