31/08/07

Morte aos assassinos (2)

Não teria sido necessário escrever o último texto publicado - lendo o post de Tiago Barbosa Ribeiro e depois os comentários, ficaria esclarecido e menos sarcástico acerca de todo este assunto.
A verdade é que parece que quem foi convidado foi o PC colombiano, que aparece apoiar (de acordo com o DN) os terroristas da FARC.
Vários problemas: qual a medida de bondade de todos os que se indignam contra um facto menor da política portuguesa, qualquer coisa que devia de ser apenas uma nota de rodapé da actualidade, um assunto interno do PCP? Por outras palavras, existem valores absolutos nestes fogachos dos bloggers politicamente empenhados? O que se condena? O métodos terroristas das FARC? O apoio do PCP, camuflado ou não, ao tal grupo? A venda de material da organização por parte do PC colombiano? Em relação à primeira questão, ninguém pode não condenar os métodos terroristas da organização. E condena-se os objectivos? Ou os fins justificam os meios? É claro que o problema não é de natureza, mas sim de substância. O que os blogues (e jornalistas) de direita fazem é rejeitar, por princípio, toda e qualquer ideia, criminosa ou não, terrorista ou não, de organizações de esquerda. A luta ideológica não se trava no campo da acção, mas sim das ideias. Apenas assim se explica que se defenda e se condene ditaduras ao gosto da ideologia dominante; a direita não se importa que os E.U.A. apoiem teocracias islâmicas ao mesmo tempo que perseguem ditadores empobrecidos até à morte (assassinando no processo milhares de inocentes); neste aspecto, a esquerda é menos hipócrita (se bem que tão imoral como): é capaz de apoiar políticos como Chavéz ou Fidel Castro até ao último momento, e simultaneamente rejeitar os desmandos de um ou outro regime de direita, democrático ou não.
Por isso, falar de actos criminosos como pretexto para condenar uma organização política acaba por se tornar uma bela hipocrisia. Não será criminoso o comportamento de democracias que intervêm em nações independentes, ainda que agindo em nome de valores mais altos (a tal ideia de que os fins justificam os meios)? Mas a coragem não abunda, eu sei. Admitir que o campo político com que nos identificamos também comete os crimes que, por princípio, rejeitamos, não é fácil. A retórica da política não pode permitir coisas como honestidade, verdade ou, acima de tudo, dúvidas. Exclui o factor humano em favor de conceitos abstractos, utopias perigosas. Pura literatura. Poder.

[Sérgio Lavos]

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