07/07/07

Aniversário

Por lapso ou vontade involuntária, na entrada mais abaixo, "Uma verdade", não referi o tema que tratava. Ao reler o texto, nem eu próprio sei se pretendia mesmo escrever sobre o que tinha inicialmente em mente: o meu aniversário. É verdade que nasci há 32 anos, aqui há uns dias, mas a importância do acontecimento é tão reduzida que nem para assunto de post serviu. A única razão para assinalar a data é ter esquecido o poema de Fernando Pessoa ("No tempo em que festejavam os meus anos/Eu era feliz e ninguém estava morto"). Esqueci-o e escrevi o rascunho com aniversário em fundo. Uma cedência ao lugar-comum da melancolia, admito, mas as razões que lhe estão associadas perdoam a falha.
Ninguém comemora aniversários. Uns bebem até esquecer que a data vai passando. Outros esquecem antes de beber e vivem como no poema de Mário de Sá-Carneiro ("Quando eu morrer batam em latas"). Mas sinceramente, ninguém pode, de maneira séria, celebrar a passagem do tempo. O nascimento, claro. Dou de barato esse pormenor relacionado. Não somos responsáveis pela nossa vinda ao mundo - porquê então lembrar anualmente o facto? Sem falar da perfeita aleatoriedade dos marcos temporais. Vivíamos melhor sem calendário? Viveríamos mais descansados, sem a pressão de cada aniversário. O assunto acaba por ser um pouco repugnante - lembra sempre os que escondem os anos que passaram, aqueles que queremos manter a uma distância sanitária.
Não gritar, não soprar velas, não partir o bolo. Dispenso tudo isso; mas, por favor, continuem-me a presentear com a vida material a que também tenho direito - objectos a que eu possa prender o meu afecto, tendo a certeza que nenhuma retribuição lhes é devida; o único tipo possível de amor desinteressado. Continuarei a esquecer aniversários (quem me conhece sabe que é assim). O meu próprio aniversário, espero um dia esquecê-lo. Não existe maior felicidade do que viver fora do tempo.

[Sérgio Lavos]

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