18/09/06

Reciprocidade

Tudo se encaixa de forma perfeita: Bento XVI deu o flanco aos que diziam que Ratzinger não era a melhor escolha para o lugar, por razões que tinham principalmente que ver com a pouca propensão para o diálogo inter-religioso. Os muçulmanos estão a dar razão ao dislate de Bento XVI, respondendo com violência verbal e física a um discurso que incluía uma frase proferida no século XIV por um imperador bizantino que procurava defender a integridade do território das investidas dos otomanos que então começavam a expandir-se pela Europa fora. A alusão nada inocente que Bento XVI faz à violência intrínseca da religião muçulmana é um erro, mas isso já Bento XVI percebeu - e entretanto corrigiu o tiro. Escusam de aplaudir em surdina, caros apóstolos do apocalipse civilizacional profetizado por Huntington; não é desta que o Papa se ergue como arauto do reduto final da "civilização ocidental". A espada que já foi lei, durante séculos, também na religião católica, não autoriza que se emitam deste modo juízos de valor sobre a moral alheia. E, de resto, o problema nunca residiu na religião em si, nas palavras dos livros sagrados, mas sim nos homens que as interpretam. E Bento XVI, como académico que também foi, devia saber isto melhor que ninguém.

[Sérgio Lavos]

Sem comentários: