14/08/06

O som

A arte contemporânea, empobrecida e reduzida à sua expressão essencial, consegue provocar o espanto ou a contemplação estética recorrendo a artifícios que nascem do quotidiano, retirando os objectos do seu meio original e recontextualizando-os no espaço privilegiado de sempre, o museu. Um som de sirene, durando três minutos, ouvido no meio de um conjunto de visitantes da exposição "Vinil", no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona. Podia ser uma sirene de bombeiros, primeira impressão, ou, mais dramático, o som avisando um bombardeamento iminente. Reiner Ruthenbeck joga com as duas possibilidades, mas aposta claramente na segunda. Quem entende aquele som como aviso de guerra automaticamente, e quase apenas por instinto, soma uma série de elementos que constituem um conjunto que nada tem a ver com a arte. Reiner Ruthenbeck é alemão, e a experiência de guerra mais documentada e mediatizada a que temos acesso é a que assolou o mundo em 1939-1945. Quem ouve não sabe onde foi gravado aquele som, mas por momentos sente a inquietação e o medo de uma entidade construída e inacessível - a vítima de um bombardeamento aéreo. Reformulando o que foi antes afirmado, terá isto então nada a ver com arte, ou terá tudo?

[SL]

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